quinta-feira, 26 de julho de 2007

A sensação do desconforto

Um mundo frenético, em que o espaço e o tempo são relativos. O que antes parecia longínquo e inalcançável agora suscetível ao toque de nossas mãos. Não sei o nome do meu vizinho e ao menos sei quem ele é, seu rosto pode ser como o de qualquer transeunte das grandes cidades, se confundindo por entre os passantes apressados. Você já parou para pensar na distância que há entre você e o homem que está sentado ao seu lado no ônibus? O individualismo do sistema irracional que não permite o desenvolvimento da percepção em relação ao mundo além do umbigo. Um mundo superficial. A perda dos valores humanos. Passos iguais, movimentos mecânicos, a padronização humana. Quando todos somos produtos, quando todos somos marionetes do fabuloso espetáculo da modernidade, quando tudo o que poderia ser emancipador é englobado pela gulosa ameba das técnicas. É apavorante ter consciência de que fazemos parte de uma auto-destruição. Seria o fim das utopias, seria o fim da história e não há porquê lutar. Esse seria o discurso do malvado monstro que determina nossas vidas, para que sintamos a incapacidade na sua forma mais plena. Discurso forte, discurso lógico. Mas ele se esqueceu de que discursos racionais não têm a força da sensibilidade humana.

* Texto escrito em 2005

sábado, 21 de julho de 2007

Porcos não olham para o céu

Eu, uma pessoa desacostumada com o teatro, diria até mesmo leiga no assunto, venho aqui para opinar sobre uma peça que assisti hoje, no teatro Satyrus. Chama-se “Elevador – porcos não olham para o céu”.

Nenhum cenário. Nem fundo, nem sofá. Nada. Apenas fitas-crepe no chão, marcando um espaço a lá Dogville. E três atores. Que não trocam a roupa – no máximo, tiram ou colocam um casaco. A história: três pessoas presas dentro de um elevador que não pára de subir; um homem com cara e jeito de banana, uma menina de comportamento infantil e um sujeito do tipo escroto e machista. Dentro do elevador é onde tudo acontece.



Creio que, para algo ser classificado como de boa qualidade, deve ter a capacidade de prender e entreter o espectador. É o que acontece em “Elevador”, que enquanto vai se desenrolando, cada vez mais nos traz a sensação de que também estamos dentro daquele espaço de 2x2: claustrofóbica e angustiante.

Enquanto isso, em muitos teatros de grandes nomes espalhados pela cidade, com suas mega-produções e brilhantes celebridades, não presenciamos nem metade do envolvimento que “Elevador” traz. Uma peça simples e de qualidade.

http://www.notivagosburlescos.blogspot.com

Quadrilha de Teatro Notívagos Burlescos apresenta
Elevador – porcos não olham para o céu
Com Luiz Xavier, Guto Nogueira e Sheyla Coelho
Até 04 de agosto – sextas e sábados, 19h – Espaço dos Satyros I
Praça Roosevelt, 214 – Tel: (11) 3285-6345

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Novo prato para se deliciar

O mês de julho, apesar de nos ter presenteado com algumas tragédias, trouxe-nos uma boa notícia, em formato de revista impressa: trata-se da nova Brasileiros, de publicação mensal, conteúdo diferenciado e uma equipe criativa e competente.

O que parecia ser mais uma mídia nas bancas, acabou por surpreender em todos os aspectos. Sob a supervisão de Hélio Campos, Nirlando Beirão e Ricardo Kotscho, o time de reportagem e fotógrafos traz tudo aquilo que não se vê por aí: matérias que tratam do brasileiro, o cidadão, da celebridade ao desconhecido pelo público. Os temas são os mesmos dos trabalhados por qualquer revista – o diferencial é o modo como são abordados. Em literatura, Machado de Assis em quadrinhos; no esporte, entrevista com um bicampeão de boliche que está disputando o Pan; na música, o lançamento de uma coletânea de músicas bregas. Preconceito (reportagem de capa), a luta de vale-tudo, um dossiê sobre biocombustíveis e até mesmo mulheres pilotos-militar da FAB, são outros temas encontrados em Brasileiros.

Pessoalmente, a matéria que mais me chamou a atenção foi com o ator global Walmor Chagas, um senhor que faz, na grande maioria das vezes, pequenos papéis em novelas. A reportagem é praticamente poética: textos do próprio ator se intercalam com intervenções do repórter, transformando uma reportagem que poderia ser feita em formato comum, em uma ousadia jornalística.

A revista é grande. Muita leitura se tira dela. Sem esquecer, claro, da parte visual, que nada tem de moderno, mas muito de criatividade. Espero que não seja êxito de primeiro número e que a qualidade se mantenha para os próximos. Está de parabéns.

Revista Brasileiros: www.revistabrasileiros.com.br

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Very dangerous

Uma boa que precisa ser registrada:

Tem gente indignada porque os sem-terra invadiram Tucuruí e mexeram com os equipamentos da usina responsável por 8% da energia do país. Pior é o PMDB, que mexe com todo o ministério de Minas e Energia.
Palmério Dória

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Festival reúne talentos do samba no Tuca

O Primeiro Festival de Samba Paulista, realizado nos dias 26 e 27 de junho no Tuca, foi um verdadeiro festival de criatividade e talento. Com apresentação de 12 composições vindas de diversas regiões do estado, tivemos a casa lotada, torcidas animadas e representantes do samba paulista por todo canto.

Para concorrer aos prêmios da competição de melhor samba, 263 músicas foram inscritas, das quais 12 foram selecionadas para serem apresentadas no festival. O que se viu foi uma variedade de modalidades de sambas, do samba de roda ao samba canção, do partido alto à bossa nova, do samba breque ao samba sincopado, passando ainda por sambas com toques profundos de jazz.

No primeiro dia, após a apresentação das músicas concorrentes, o público foi brindado com uma taça repleta de nostalgia. Os Trovadores Urbanos cantaram e encantaram a platéia – composta por pessoas de várias idades. Até mesmo os mais jovens fizeram coro para os Trovadores em músicas tradicionais como “Trem das Onze”, “Prova de Carinho” (ambas de Adoniran Barbosa), “Laranja Madura” (Ataulfo Alves), entre outras.

Na segunda e última noite, o clima era de excitação e as torcidas não continham gritos e aplausos para cada música apresentada. Enquanto o júri, composto por Eduardo Gudin, Moisés da Rocha, José Carlos Costa Netto e Zé Luiz Mazziotti decidia a premiação, a presença de Paulo Vanzolini fez o festival chegar ao seu ápice. Músicas como “Ronda” e “Cravo Branco” foram cantadas por sua mulher Ana Bernardo – intérprete de voz rompante –, que ainda pediu a Vanzolini para dar uma palhinha. O compositor não só se emocionou como o fez com todo o público.

Com tantos festivais que são realizados hoje em dia, o Primeiro Festival de Samba Paulista provou que, além de São Paulo ser uma cidade que tem o samba no pé, o samba, diferentemente daquilo que (não) se vê na mídia, está muito mais vivo do que se pensa. Nem morreu, nem renasceu. Continua existindo – e com brilho.

Confira a classificação das músicas no site do Tuca

*Colaborou Heitor Augusto