quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A Todo Anarquista

Dizem que Deus, após criar o mundo em seis dias, no sétimo descansou. Era domingo. Assim sendo, esse dia tornou-se sinônimo de dia de descanso em todo o mundo. Mas, diferentemente do que está escrito na Bíblia, o Centro de Cultura Social faz de todos os domingos dias de grandes reflexões e ativismo na programação Cinema e Anarquia – Imagens da Subversão & A Subversão da Imagem.

Ao exibirem, sempre no período da tarde, filmes marginais, anarquistas e que suscitam discussão, para, em seguida, realizar debates, o CCS acaba por se tornar um dos principais núcleos do pensamento e da atividade anarquista que existe hoje em São Paulo. Porém, de novo o centro não tem nada, já que sua fundação data de 14 de janeiro de 1933, momento em que os sindicatos já não eram mais o principal foco de militância anarquista.

Criado como “uma organização pública do movimento anarquista destinada a estudar e debater os problemas sociais”, o CCS foi fechado por três vezes, de acordo com o momento político, até reabrir nos dias de hoje (e que, escusas algumas dificuldades, funciona muito bem), enfraquecendo o discurso de que o anarquismo já não tem mais espaço na atual sociedade. Isso porque, além de realizar as exibições de filmes aos domingos, promove debates aos sábados, possui uma livraria e uma biblioteca repleta de material anarquista (disponíveis para empréstimos), além de um pequeno café.

Neste fim de semana, será exibido “Admirável Mundo Novo”, uma adaptação da obra de Aldous Huxley, às 15h e que, como em toda atividade realizada por lá, tem entrada gratuita. Desligue o Faustão (ou o Domingo Legal) e vá participar.

Centro de Cultura Social
Rua General Jardim, n° 253 – sala 22
Vila Buarque – SP
(próximo ao metrô República)

Apoio: Movimento Anarcopunk de São Paulo – MAP/SP

Acesse:
www.ccssp.org
www.anarcopunk.org

* Dados históricos retirados de Anarquistas: ética e antologia de existências

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Um encontro com o mundo real

Brasileiro. Geógrafo. Professor. Marxista. Intelectual. Negro.
Perguntam-lhe se é difícil a condição de um intelectual negro no Brasil. Ele responde que ser intelectual é uma dificuldade. Ser negro é outra. Ser os dois é um grande problema.
Esse é Milton Santos.

E essa figura acaba de ganhar um dos documentários mais bonitos, fortes e inteligentes que já tive a oportunidade de assistir dentro da produção do cinema nacional. Dirigido por Sílvio Tendler, “Encontro com Milton Santos – O Mundo Global Visto do Lado de Cá”, que teve pré-estréia ontem, desmascara os horrores do mundo atual ao mesmo tempo em que mostra de maneira sutil um pouco do professor por meio dos principais temas que ele trabalhou em sua vida.

Milton era professor da Universidade de São Paulo, desenvolveu uma crítica brilhante acerca da globalização e do território brasileiro, porém morreu sem o devido reconhecimento. Até chegar Sílvio, que trabalhou no documentário por mais de 10 anos e conseguiu reunir em seu filme grande parte da genialidade deste homem.

O que chama a atenção é a maneira como o documentário é construído: imagens de depoimentos de Milton Santos e de entrevistas que concedeu ao diretor do filme desde 1995, são intercaladas com verdadeiras aulas sobre o Brasil e o mundo, que mostram dados do capitalismo selvagem, a fome da especulação financeira, a irracionalidade dos poderosos, a luta de movimentos sociais e de uma humanidade que está nascendo agora. O mundo que é divido entre “os que não comem e os que não dormem. Que não dormem com medo dos que não comem”.*

Narrando o filme, nada mais, nada menos do que Beth Goulart, Fernanda Montenegro, Mateus Nachtergaele, Milton Gonçalves e Osmar Prado. A trilha sonora reúne o melhor da música brasileira, com participação especial de Zélia Duncan e presença de Black Alien&Speed e B-Negão.

Como Sílvio Tendler disse na noite de ontem, em debate após a exibição do filme, enquanto o filme “Os Simpsons” estréia em 500 salas do Brasil inteiro, “Encontro com Milton Santos” estará apenas em seis. Isso só confirma uma das afirmações de Milton Santos, a de que somos colonizados pelos países do norte e que precisamos olhar mais para “o lado de cá”.


*Esta frase aparece em certo momento do filme, porém não consegui transcrevê-la literalmente, coloquei apenas a idéia que consegui guardar na cabeça.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Não Kassab Nada

Que o Kassab num kassab nada todo mundo já sabe. E que ele discursa por 10 minutos seguidos sem falar nada de interessante, fui provar pessoalmente.

Estive no lançamento da campanha do Dia Mundial Sem Carro, hoje, no espaço Rosa Rosarum, em Pinheiros, com a expectativa de ser um evento que discutisse a fundo o problema do excesso de veículos da cidade e apresentasse e incentivasse alternativas viáveis aos automóveis. Esperei também encontrar um número grande de ciclistas que falariam de suas principais dificuldades. Estava enganada quanto às duas expectativas.

Na última, porque o número de ciclistas era ínfimo perto do número de deputados, vereadores, secretários, assessores, entre tantos outros cargos públicos. Na primeira, porque o que se viu foi um verdadeiro festival de discursos batidos e sem nenhuma novidade, excetuando em especial, o de Eduardo Jorge e de um morador da Cidade Adhemar, que pontuaram as principais causas do trânsito paulista, além de terem apresentado, mesmo que de forma rápida, soluções viáveis.

Porém, todos os outros representantes não falaram mais do que fantasias e discursos irreais. Um sujeito, que não consegui saber exatamente quem era, subiu ao palco para apresentar, por exemplo, a proposta de bloquear para automóveis a Av. Paulista no sentido Consolação-Paraíso. Walter Feldman usou o tempo de sua fala para apresentar um novo projeto da Prefeitura de fazer uma Virada Esportista. “Projeto legal, projeto vai ser assim e nós vamos fazer isso e essas são nossas parcerias...” Ok, mas e o trânsito? E as ciclovias? E os ciclistas? O transporte público? O tema não era o Dia Mundial Sem Carro?

Já nosso queridíssimo prefeito Gilberto Kassab, sendo o último de uma lista excessiva de pessoas a falar, pegou o microfone para hablar sobre nada. Talvez “nada” seja exagero, porque ele falou, mas meia dúzia de abobrinhas do tipo “a prefeitura está fazendo sua parte” e “estamos revolucionando o transporte em São Paulo”. Mas seus principais temas foram o Leve Leite e sua lei de maior orgulho: Cidade Limpa. Seu argumento chegou até a ser engraçado: o paulistano está muito engajado no combate à publicidade ilegal e a Prefeitura recebe, por dia, três mil denúncias de propaganda irregular. E, da mesma maneira, a população vai receber o Dia Mundial Sem Carro com a mesma dedicação. Na minha frente só ficou uma interrogação: ahn?

Tudo isso serviu para eu ver, de pertinho, que as autoridades não estão mesmo nem aí para a questão, só querem falar de seus projetinhos paliativos, puxar o saco um do outro. E, principalmente, que o prefeito não sabe nem o que é que ele tem que falar em um evento como esse.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A cidade cansada

São Paulo é uma cidade cansada.

Uma cidade prestes a entrar em colapso, uma cidade que se encontra em estado de ebulição. Não só por falta de investimentos em todas as áreas, – saúde, habitação, educação – mas porque, simplesmente, não suporta mais nem um carro em suas ruas.

Isso não é novidade para ninguém. Engarrafamento se tornou sinônimo de São Paulo e todos os termos que envolvem esse “fenômeno” urbano já são tão comuns na vida diária que talvez sejam pronunciados tantas vezes quanto “bom dia”: hora do rush, congestionamento, vias alternativas, trânsito.

O que talvez seja novidade são as ações que andam surgindo por aqui e por ali para tentar acabar, ou ao menos conter o trânsito da cidade. O número de ciclistas é cada vez maior, investimentos em construção de ciclovias tem se tornado medidas necessárias, pessoas que largam seus carros em casa e vão ao trabalho por meio de transporte público – tudo isso são alternativas e soluções (ou tentativas) para dar um fim ao caos.

As organizações que vêm surgindo para construir uma nova mentalidade sobre o meio de transporte em São Paulo também têm cada vez mais se multiplicado. Uma delas é o movimento Nossa São Paulo, que entre outras bandeiras levantadas pela criação e melhoria de políticas públicas da cidade, é uma das principais articulistas do Dia Mundial Sem Carro.

O Dia Mundial Sem Carro acontece todo dia 22 de setembro. A proposta é, nesse dia, fazer com que as pessoas deixem seus carros em casa e, coletivamente, despertar a consciência de toda uma população sobre o transporte. Já que vivemos em uma sociedade onde, além de outras ditaduras, existe a do automóvel, este dia serve para provar que o carro não é estritamente necessário e, principalmente, que há diversas alternativas a ele.

Para dar um pontapé, o dia 8 de agosto (quarta-feira) será uma prévia. Vamos tentar, também neste dia, adiantar o Dia Mundial Sem Carro para, em breve, fazermos dessa prática uma prática cotidiana.

Dica de site:
O blog Apocalipse Motorizado é um dos melhores sites sobre a ditadura do automóvel. Com notícias sobre bicicletadas, especulações imobiliárias e dados em números sobre o “apocalipse”, é um bom meio de se informar sobre o que está acontecendo por aí.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Você cansou?

Que bom, porque eu também estou cansada. Estou cansada de ver que a burguesia, quando sente que estão mexendo no seu bolo, apela para a realização de protestinhos de cunho político, mascarado de “direito cívico”. Quando há protestos contra a criminalização dos movimentos sociais, contra a descarada manipulação da grande mídia, a vinda de George W. Bush ou pela melhoria das instituições de ensino público, onde está o senhor Dória? Onde está para apoiar a ocupação da reitoria da USP? Logicamente, ninguém deseja ter um país líder em corrupção, mas quem são os primeiros a sonegar os impostos de suas empresas?

Cansei de ver que em pleno ano de 2007, como afirmou a CUT, o Brasil ainda tem casos de trabalho escravo. Cansei de ver jornalões exaltando as figuras de Antônio Carlos Magalhães e Roberto Marinho, como se fossem grandes figuras que fizeram muito por nosso país. Fizeram muito para os bolsos deles.

Cansei de ver o monopólio da Monsanto, os latifúndios, a exploração da Amazônia. Cansei de ver filhinhos de papai-cabeça-de-vento espancarem empregadas e colocarem fogo em índio e saírem impunes, porque, afinal, “são bons meninos, tiveram educação”. Cansei de ver neonazista matando homossexual, mulher apanhando do marido, cansei de ver casos de estupro. Cansei de ver gente morrendo em fila de hospital, mendigo dormindo embaixo da ponte e morrendo, literalmente, de frio.

Contra todas essas questões, Dória e sua turma organizam protestos na Av. Paulista? Não. Sabe porquê? Porque não interessa, porque eles não são prejudicados por nenhuma dessas questões. Porque enquanto o deles não está na reta, o melhor mesmo é ficar em casa assistindo o Jornal Nacional e pregando que o MST é um movimento de baderneiros e vagabundos. Para mim, o verdadeiro vagabundo é aquele que só pensa em seus próprios interesses e deixa o mundo explodir enquanto isso não o atingir.

Dória, você e sua turma são verdadeiros vagabundos.

E eu cansei de vocês.