quinta-feira, 8 de maio de 2008

Guitarra e Ossos Quebrados – Quique Brown

Eles juntaram todas as economias, arrumaram as poucas mochilas, pegaram seus instrumentos e embarcaram em direção à Europa. Em Guitarra e Ossos Quebrados, Quique Brown, vocalista do Leptospirose (Bragança Paulista), relata em um diário de bordo cada momento da turnê de sua banda junto com os capixabas do Merda por terras européias essencialmente punks. De pepinos no café da manhã e shows em squats até noites mal dormidas e um acidente de van que colocou fim à empreitada, todos os episódios estão reunidos em um livro escrito sem nenhuma pretensão de ser literário, mas, ao mesmo tempo, curioso, envolvente e, melhor ainda, recheado de fotos. O exemplar pode ser adquirido pelo site da Laja Records.
Läjä Records. Espírito Santo. 2007

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Uma conversa franca

Fico muito triste com o que vocês falam dele por aqui. Vocês dizem que ele é ditador, mas para a gente ele não é. Os pais sempre fazem de tudo por seus filhos, desejando o melhor a eles, mas nem sempre o resultado é aquilo que esperam. E o Fidel é assim. É como um pai para o povo cubano, sempre pensando em nosso bem. Sabemos que tudo o que ele faz é em benefício de seu povo.

Os jornais mostram, com freqüência, imagens de cubanos tentando fugir de seu país em direção aos Estados Unidos, em barcos mal construídos, enfrentando tempestades marítimas e correndo risco de vida. Mas o que nunca dizem é que muitos desses cubanos possuem familiares vivendo nas terras do Tio Sam mas não podem fazer sequer uma visita, já que têm seus vistos negados não por Fidel, mas pelo governo estadunidense. Nós não somos proibidos de sair de Cuba, mas sim de entrar nos EUA.

Dizem que somos um povo atrasado e sem liberdade, porque nosso presidente, para vocês um ditador, proíbe o uso da internet. Mas ninguém conta que o sinal necessário para o uso da rede foi cortado pela maior empresa do mundo: a Microsoft. Não é o Fidel que nos proíbe, é o Bill Gates.

As ruas de Cuba são esburacadas, o transporte é um caos. Sabemos que há ainda muita coisa a ser feita por Cuba, temos muitos problemas, mas não podemos nos esquecer de certas coisas. Dá para esquecer que temos 85% da população com diplomas universitários? Não dá. Dá para esquecer que qualquer pessoa doente é atendida imediatamente e de graça pelo serviço de saúde? Não dá. Se eu fico grávida e quero ter o meu bebê, vou a qualquer hospital e tenho todo a assistência necessária gratuitamente. Dá para esquecer? Não dá.

Nós não pagamos a Universidade. Fico chocada com o que vejo aqui: meninos de 18 anos trabalhando o dia inteiro para poder pagar a faculdade. Quem é que consegue estudar devidamente depois de um dia inteiro de trabalho? Em Cuba ninguém precisa trabalhar para pagar os estudos. Lá há tempo para estudar, para crescer, para viver. Aqui não.

Aprendi duas palavras no Brasil: stress e depressão. No meu país não existe isso. Somos um povo que vive da luta, como é que vamos ter depressão? Não sabemos o que isso significa. Todas as nossas crianças estão nas escolas e brincam com qualquer coisa que lhes for dada. Aqui, saio do trabalho e vejo muitas delas na rua, passando fome, enquanto outras só são felizes com brinquedos de última geração. É a mentalidade do consumo, que não existe para nós.

No dia em que o Fidel renunciou, cheguei ao serviço e me falaram: “Finalmente vai ter democracia em Cuba”. Simplesmente respondi: “Se for para termos a democracia de vocês, não queremos”.

Cuba é um país complexo. Tem que saber olhar para ela. Vocês não entendem o que acontece lá, porque há uma grande diferença de mentalidade. Com Raúl agora na presidência estamos vendo acontecer algumas mudanças que estávamos esperando há tempos. O povo está confiante nele. O problema é que ele também está velho e logo não o teremos também. E os cubanos têm medo. Medo do que vão fazer com a gente. Mas enquanto Fidel vive, sabemos que estamos protegidos, mesmo com ele sendo hoje apenas um combatente das idéias. Para mim, ele poderia ser para sempre.

Este texto é uma tentativa de recriar o que ouvi de uma cubana esses dias. As palavras são minhas, mas as idéias são dela, que começou a falar sinceramente e sem parar para respirar, como alguém que precisava ser ouvida. Tentei relatar fielmente tudo o que eu ouvi. Ela me pediu que, como jornalista, eu desmistificasse o que insistem em confirmar. Esse texto foi o meu primeiro passo.

terça-feira, 25 de março de 2008

Um desabafo

Apesar de não ter vindo de uma família rica, nunca me faltou nada na vida, desde a posse de bens materiais até o acesso à educação e à informação. Assim como todos que estudaram comigo ao longo de pelo menos 10 anos, em uma boa escola particular construtivista com preocupação na formação social do indivíduo, fui criada em um ambiente aberto a debates e trocas de idéias, onde inclusive visitas a assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra estavam entre as atividades da grade curricular. Era o que hoje chamo de “classe média consciente” – com um certo tom pejorativo na frase -, mas que teve um peso definitivo na formação da minha personalidade.

Mas, em um determinado momento, por volta dos 14 anos, esse caminho “livre da alienação” que eu seguia mudou o modo do curso. Enquanto todos os meus colegas começavam a firmar suas personalidades em um mundo à base de MPB, Chico Buarque, maconha e arte, nada daquilo fazia muito sentido para mim. Foi aí que eu fui atrás, junto com duas amigas -que imagino terem entrado na mesma crise que eu - da tal da cena punk/hardcore. Uma identificação adolescente, em busca de afirmação e identidade, mas que, sem sombra de dúvida, influenciou tudo o que sou hoje.

Para quem vive dentro dessa cena, esse papinho de “o punk mudou minha vida” já é batido, clichê e chega até a dar canseira. O assunto não é nem tanto o encontro das pessoas com o punk, mas a influência e o peso desses ideais na vida de quem os tomou para si. O motivo que me fez trazer esse assunto à tona foi a seguinte afirmação, que li por aí dia desses:

Existem tantas preocupações na vida. Ela é tão mais importante do que esse mundo do Hardcore, de bandas de final de semana, de fanzines mal escritos e ideologias políticas ultrapassadas. Isso passa, a maioria vai desencanando e levando a vida de outra forma. De volta ao mundo real onde temos que trabalhar pra pagar contas, estudar para ter um futuro e puxar o saco do chefe porque ele sim é quem vai te ajudar.

Não vou entrar na discussão do que é o “mundo real”, capitalista, em que temos que trabalhar e pagar contas. Essa é uma realidade que qualquer pessoa que vive em uma sociedade do capital enfrenta em algum momento da vida. A diferença está nas diversas formas encontradas para sobreviver à lei da selvageria – ou pelo menos não sucumbir a ela. E é neste ponto que o punk entra. É neste ponto que ele faz sentido. E muito.

É lógico que tenho não uma, mas muitas e muitas críticas quanto ao que acontece dentro desse mundo “paralelo”, seja em relação a bandas, pessoas, comportamentos de grupo ou qualquer outra coisa. Mas nenhum desses problemas tira a essência de um ideal e a validade prática que ele tem. E, muito menos, anula o esforço de muitas pessoas que lutam para manter a coisa toda minimamente digna.

As bandas tocam aos finais de semana porque não há outro dia disponível para isso, afinal, a maioria das pessoas trabalha para pagar suas contas.

Os fanzines podem até ser mal-escritos, mas passam mensagens, idéias, críticas, analisam e questionam o mundo, oferecem informação e são a alternativa a tudo aquilo que pode se chamar de grande mídia. O fanzine é o meio de comunicação de um grupo, que não sofre censuras, não tem meias palavras e se importa em ser livre. Acima de qualquer preocupação lingüística e gramatical, preocupa-se com o fluir das idéias.

Algumas ideologias políticas podem já não ser totalmente adaptáveis à sociedade atual, mas nunca serão ultrapassadas. Talvez a maneira de se implementar na prática determinadas ideologias deva ser mudada, mas jamais princípios como liberdade, dignidade e respeito serão ultrapassados. E são eles que regem uma atitude punk.

Para muitas pessoas, tudo isso passa. Muitos desencanam e levam a vida de outra maneira porque, de alguma forma e por algum motivo, isso tudo não fez mais sentido. Opção pessoal. Mas nunca um ideal como o que vive na cena punk/hardcore, pode ser encarado como coisa de criança, como momento passageiro. Tenho amigos que já passam dos 30 anos de idade, outros até dos 40, que são muito mais punks que muitos jovens por aí. Que levam tudo isso a sério. Que aplicam em sua vida diária princípios como o faça-você-mesmo ou o próprio anarquismo. Pessoas que gerem seus próprios espaços, vivem da autogestão, mantêm suas bandas fazendo as próprias camisetas, gravando os próprios cds. Realizam eventos onde der, debates com quem estiver presente, exposições de arte com as condições existentes, fanzines com o dinheiro disponível… Mantêm uma atitividade incessante, possibilitando todo o funcionamento desse mundo “paralelo” e “alternativo”. Sem precisar do chefe para ajudar em coisa nenhuma. E são muito felizes assim.

O punk é a fuga daquilo que oprime, é o outro lado da moeda, é a alternativa ao mundo grotesco. É por isso que faz sentido. Só é coisa de criança para aqueles que nunca o entenderam.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Internet democrática?

O jornalista Paulo Henrique Amorim, que possuía um blog hospedado no site do IG, o "Conversa Afiada", teve seu contrato rescindido com a empresa na terça-feira passada sem nenhum aviso prévio.

O jornalista recebeu apenas uma notificação quando o blog já havia sido tirado do ar, "sua equipe tivera cancelado o crachá de entrada na sede do portal e o computador sofrera o vexame final de ser lacrado". Nenhuma nota ou aviso aos leitores do blog foi publicada pelo IG. O contrato de PHA estava previsto até 31/12/2008.

A recisão do contrato, feita bruscamente e sem maiores explicações, causa estranhamento. Quando se trata do caso de um dos poucos jornalistas desvinculados do poder e manipulação da grande imprensa (golpista), crítico e combativo, a atitude do portal parece-me esboçar uma verdadeira e descarada atitude de censura. Freqüentadores do blog, como eu, sabem bem que a posição assumida pelo jornalista incomodava os tucanos e a própria grande imprensa. Como nos tempos da Ditadura, aquele que fala demais tem sua boca calada.

Em solidariedade, o editor da revista semanal Carta Capital, Mino Carta, assumiu a atitude de retirar seu blog da hospedagem do portal IG. De acordo com os comentários publicados em seu último post, parece estar surgindo uma onda de boicote ao portal.

A questão que me vem à cabeça é em relação à internet vista como um espaço livre e democrático. Enquanto grandes empresas com nomes que vão de Telefonica e UOL à Terra e IG estiverem com a hegemonia da comunicação, o espaço virtual pode vir a se tornar o espaço real, em que todas as atitudes "subversivas" serão sufocadas, censuradas e ilegais. Por enquanto ainda temos a liberdade de criar nossos próprios sites, mas temos como exemplo o que está acontecendo na China em relação ao Tibete: o governo proibiu o acesso ao Youtube. No Brasil, até uma modelo insignificante conseguiu impedir o funcionamento deste site por algumas horas. E se a Telefonica resolver cortar a conexão de usuários que falam o que pensam e criam suas próprias mídias?

Paulo Henrique Amorim está com seu próprio site: http://www.paulohenriqueamorim.com.br/

quinta-feira, 6 de março de 2008

A vez da estética de faroeste

As opiniões acerca do merecimento do Oscar de melhor filme para No Country for Old Men são as mais variadas e vão da revolta à excitação. Alguns o julgam ironicamente como “filme feito paras os que entendem da verdadeira arte”, enquanto outros o vêem como uma excelente obra cinematográfica capaz de retratar a violência de maneira diferenciada. Traduzido para o português como Onde os fracos não têm vez, surge apenas um consenso quanto a ele: a discussão.

Tendo como pano de fundo o árido Texas dos anos 80 com uma estética de faroeste, a história se desenrola a partir do momento em que Llewelyn Moss (Josh Brolin), um caçador, se depara com a cena de um crime onde, além de mortos, há uma recheada mala com 2 milhões de dólares. Fugindo com o dinheiro, Moss começa a ser perseguido por Anton Chigurh (Javier Bardem), assassino psicótico contratado para reaver a quantia. Entra em cena então, o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones). A partir daí, sangue, mortes e suspense vão dar o tom ao longa.

Nada muito inovador quando se trata de tramas hollywoodianas. O diferencial do filme está em pequenos detalhes, capazes de tornar uma história aparentemente banal em uma inovadora obra de suspense. A quase ausência de trilha sonora, um assassino de expressões tranqüilas com um corte de cabelo singular, aliados a cenas de perseguição quase sem ação, mortes frias e nada espetaculares e um final incomum, tornam Onde os fracos não têm vez uma novidade não por seu conteúdo, mas por sua forma.

É claro que a maestria com que os personagens são interpretados pelos atores é fundamental para dar à trama tensão e expectativa. Javier Barden, que ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante, interpretando Anton, chega a trazer um certo ar sinistro, enquanto Ed Tom Bell, o personagem de Tommy Lee, prima pela densidade psicológica.

Tudo isso são êxitos alcançados pelo filme, que explicam o porquê de ter levado quatro estatuetas do Oscar (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado). Porém, o que a maioria do público questionador dos prêmios coloca é que se trata de um filme incompreensível.

É exatamente neste ponto que se encontra o segredo da qualidade do filme. Trata-se de uma produção cinematográfica que foge do óbvio, do explícito. Pessoas e situações enigmáticas, diálogos com entrelinhas. As dicas do desenrolar da trama são dadas em pequenos fatos e sutilezas, que se passados despercebidos, podem tornar o filme incompreensível, recheado de mistérios sem respostas. Trata-se de um longa para se prestar atenção e juntar as peças reflexivamente. Quem não perdeu uma cena sequer, com certeza adorou. E teve pesadelos medonhos com o psicótico Anton.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Normalmente, as pessoas têm incrustado na consciência que o Carnaval, além de ser o feriado mais prolongado do ano, gira em torno de viagens incríveis, bebedeiras, all-night-long, ninguém é de ninguém e esquecer que o mundo existe. Mas é claro que nem todos fazem as malas e perdem horas em estradas e muito menos adoram essas festividades. Muito pelo contrário: tem gente que dedica esses sagrados dias à colocar a cabeça e as mãos para trabalhar.

É o que acontece no Carnaval Revolução, que em sua sétima, e última, edição (antes realizado em Belo Horizonte) convida os paulistas que ficarão pela cidade - e qualquer interessado de outras localidades - a participar de três dias dedicados a palestras, shows, debates e oficinas sobre assuntos mais do que relevantes (essenciais!) de nossos dias. Veganismo, anarquismo, punk, gêneros, mídia, meio-ambiente e todo o tipo de contracultura de grupos independentes fazem parte da agenda de discussão. Tudo no esquema faça-você-mesmo.

As atividades serão realizadas no Espaço Impróprio (R. Dona Antônia de Queirós, 40) e na E.E. Profª Marina Cintra (R. da Consolação, 1289), dias 2, 3 e 4 de fevereiro. A entrada para cada dia custa R$6,00, há alojamento em frente ao local para quem vier de fora e toda a alimentação vendida será vegana. Além de tudo isso, um aviso importante: sem drogas ou álcool no local e ao fumar seu cigarro use o bom senso.

Enquanto no país inteiro é comemorado o Carnaval-esbórnia, em pequenos espaços paulistanos será comemorado um Carnaval consciente.

Para saber mais:

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

São Paulo em números

A cidade de São Paulo possui:

10,8 milhões de habitantes
5,9 milhões de veículos
280 salas de cinema
71 museus
15 mil bares
12.500 restaurantes
91 mil ruas
5.500 semáforos
349 mil placas de trânsito
240 mil lojas
800 linhas de ônibus.

Incrível.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Pintassilgo

Pesquisando imagens do Dr. Strangelove no Google, acabei achando um site muito legal, (que despertou meu lado mulherzinha consumista), onde vende almofadas com estampas baseadas em cartazes de filmes. Tem desde Laranja Mecânica e O Poderoso Chefão, até Almodóvar e Amélie Poulin. A loja é de Florianópolis, mas dá para comprar pelo correio. Vai a dica:

http://www.pintassilgo.com.br/

Stanley Kubrick - Dr. Strangelove (1964)


Mas, precisamente, senhor Presidente, não só é possível, é essencial. Essa é a idéia exata dessa máquina. Intimidação é a arte de produzir no inimigo o medo de atacar. E assim, graças ao processo decisório automatizado e irrevogável que exclui a interferência humana, a Máquina do Juízo Final é aterradora, simples de entender e completamente confiável e convincente.


Às vezes me pergunto se não há mesmo no mundo uma Máquina do Juízo Final. Se Kubrick é capaz de idealizá-la para um filme, porque algum Dr. Strangelove da atualidade não poderia se incumbir da missão de construí-la?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

David LaChapelle

Tempo há bastante, o que me falta é inspiração e disposição para escrever algo. Mas, para não deixar morrer, sugiro aqui um evento cultural:

Exposição do fotógrafo David LaChapelle
Heaven to Hell: Belezas e Desastres
A mostra fica em cartaz no MuBE – Museu Brasileiro da Escultura (Av. Europa, 218, tel.: 3081.8611) de 23 de janeiro a 5 de fevereiro.
De 3ª. a domingo, entre 10h e 19h, no Grande Salão e no Lobby do museu.

Uma das minhas fotos preferidas:


Tommy Lee

terça-feira, 8 de janeiro de 2008


A vida é bela, o sol e a estrada amarela...
(Chico Buarque)