sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Daniel Luiz Tristão, 33 anos

Daniel Luiz Tristão, 33 anos. Sentado em plena calma aguardando um ônibus. “Não parece, mas você é forte, moça, pra carregar todo esse peso”, e sorri um sorriso largo. “São livros”, eu disse. Ninguém no ponto, feriado quente, nós dois ali esperando os ônibus que nunca vêm. Ele quer saber pra quê tantos livros, faço História, digo, ele pergunta que histórias eu conto. “Não conto histórias, eu ouço histórias. Me conta a sua”. Está fazendo bico de carreto, perdeu o trabalho de jardineiro no Ibirapuera porque se envolveu com drogas. Desde que o pai morreu foi pra rua, faz 5 anos. Os dois irmãos morreram nas mãos do tráfico. Usavam drogas pesadas dentro de casa. Ele, há 1 mês sem usar nada. A assistente social é muito boa e dessa vez ele tem certeza de que vai conseguir ficar bom e arrumar um emprego. E então ele vai estudar Arquitetura. Momento de sorriso largo, os dentes brancos, lábios carnudos. Já são mais de 20 minutos no ponto. Nada do Aclimação nem do Cohab. Ele acha Osasco longe. “Seu Luísa é com S ou com Z?”. É com S, o dele com Z. Não sabe de onde vem o sobrenome Tristão, só ouviu a história de Tristão e Isolda. Falo do Tristão de Athayde, ele diz que vai procurar na biblioteca, que é 24h - não é mais, digo, ele diz que é ruim, porque gosta de estudar à noite. Acha Guimarães um nome chique. “Guimarães são pessoas importantes que fizeram história também. Você lembra do Ulisses Guimarães?”. Dou risada e digo que não foi meu parente. Meu ônibus vem, levanto. Ele levanta e me pede um beijo. Dou no rosto. “Espero te encontrar outro dia aqui no ponto”, diz. “Espero te encontrar já como arquiteto”, digo. Vida que segue.