quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Pelo direito de ir e vir (sem ser incomodada)

Estou prestes a lançar uma campanha de repressão contra homens cretinos que desrespeitam as mulheres em seu cotidiano. Não falo daqueles bêbados que espancam suas esposas e nem de estupradores, pois contra eles já existe uma sociedade inteira se mobilizando. Falo aqui daqueles inconvenientes que perdem todas as oportunidades de ficarem calados quando passa uma mulher, seja ela bonita, feia, gorda ou magra, jovem ou velha, mas desde que seja mulher. Falo daqueles infelizes que gastam saliva dizendo bobagens como “oi”, “linda”, “gostosa” e emitem sons com a boca como se estivessem com dor de dente.

Não há nada mais desagradável para uma mulher do que isso. Quer dizer, algumas podem até gostar e sentirem a auto-estima um pouco elevada, mas creio que a maioria detesta e se sente extremamente invadida e desrespeitada. Se não a maioria, pelo menos eu me sinto. Não há motivos para essa deselegância masculina; os homens simplesmente agem dessa maneira estúpida para terem certeza de que existe um pênis no meio de suas pernas. Se eles não provocam mulheres andando na rua, não são homens. Para mim, são uns desclassificados.

É por isso que eu acho que a mulher deveria ter o direito de manifestar seu repúdio contra tais atitudes da maneira que julgasse melhor. Certo dia, estava voltando para casa caminhando na calçada e dois trogloditas, no trânsito, vinham me acompanhando na mesma velocidade em que eu andava e me falando frases esdrúxulas. Fui andando e olhando para o chão procurando uma pedra para tacar no vidro do carro deles, mas pensei que isso seria um tanto quanto inconseqüente. Então, pensei que eu deveria ter esse direito. Não exatamente ter o direito de jogar uma pedra e arrebentar o carro do indivíduo, mas caso eu fosse tomada por esse impulso e fizesse algo do tipo, que existisse uma lei que me amparasse e protegesse. A justiça deveria estar ao nosso lado nessas ocasiões. Nunca vi uma mulher reagir a isso, talvez pelo fato de temer sofrer algum tipo de violência. A maioria finge não ter visto, quando deveria reagir, dizer algo, se defender, porque isso é um verdadeiro desrespeito à liberdade de ir e vir da mulher. Uma mulher não consegue andar na rua tranqüilamente sem ouvir qualquer coisa do gênero.

Mas enquanto a mulher não tem ao seu lado leis que a defenda de tais insultos – isso nem mesmo é cogitado - eu conclamo as mulheres que se sentem ofendidas com esse tipo de coisa a responderem a essas ofensas. Se o cara der “oi”, responda que não o conhece e não tem nenhum motivo para cumprimentá-lo. Responda ao nível da ofensa. Se disser “saúde” pergunte se está doente. Se emitir sons com a boca, pergunta se está com dor de dente. E se o cara falar algo de baixo nível, pegue pesado também e comece a gritar no meio da rua, grite para todos que estiverem ao redor que você foi assediada.

Se o machismo ainda existe, muito é porque as mulheres ainda aceitam determinadas atitudes dos homens e acham normal. Antes de pensar em acabar com o machismo nos homens (creio que isso seja um problema social e não de gênero), as próprias mulheres devem se libertar desse costume e fazer alguma coisa, nem que seja simplesmente dizer a eles que não acha normal.

Um comentário:

Antonia disse...

aeee Lu!!
com certeza. a liberdade de ir e vir é muito mais limitada para as mulheres no Brasil. nós temos esse direito, mas não temos a liberdade de exercê-lo, e a lei ignora que palavras também são ações.
beijoss
Antonia